Nós e a acessibilidade

Estamos em 2017, e, pensando na realidade São Paulo / Brasil, podemos nos perguntar o que as leis de acessibilidade têm feito pelas pessoas com deficiência. Para algo ser acessível não basta existir, deve existir e estar ao alcance. Trabalhando nos últimos anos na URDV, na Água Branca SP (Unidade para reabilitação de deficientes visuais), pude presenciar um pouco da carência que existe em nosso país quando o assunto é acessibilidade e inclusão. É claro que as gráficas braille existem, mas nem sempre podem emitir a quantidade de livros que as pessoas solicitam (é só lembrar que para muitas dessas instituições tudo depende das doações anuais das empresas colaboradoras, isso dita quantos funcionários a instituição pode empregar e, consequentemente, quantos trabalhos poderá realizar), as calçadas deformadas atrapalham a caminhada, os semáforos que duram menos de dez segundos em verde dificultam a locomoção das pessoas com mobilidade reduzida, os museus sem guias especialmente treinados conforme a acessibilidade comunicacional ou outras formas de atendimento a público que necessite de atendimento especializado... Poderia listar muitas de nossas carências, mas com elas não estou querendo minimizar as enormes conquistas neste cenário, muito menos afirmar que as dificuldades tornam o público com necessidades especiais incapaz... pelo contrário, dificuldades são dificuldades apenas, a incapacidade é nossa quando não alçamos voz para fazer valer nossas leis, temos recursos para estruturar atendimento acessível a todos, o que nem sempre temos é uma boa administração de recursos e treinamento adequado a novos profissionais na área.

Recentemente São Paulo recebeu a orquestra sul-coreana Hanbit, tive a oportunidade de assisti-los no teatro São Pedro. A única orquestra do mundo formada integralmente por pessoas com deficiência visual. Os jovens músicos não são apenas talentosos, mas também muito dedicados, sem o recurso simultâneo da partitura durante o concerto, tocam obras de elevado nível técnico integralmente decoradas. Além disso, contam com o auxílio de seus professores e maestro durante as apresentações. Você pode até pensar que videntes podem realizar a mesma proeza, mas o fato é que não o fazem - porque não precisam. Bem disse a professora Dolores Tomé que o é simples condicionamento para o vidente, é árdua conquista para o cego. Como musicista sempre contei com o auxílio do maestro durante ensaios e apresentações conjuntas, e nunca deixei de levar minhas partituras para consulta durante as mesmas (poderia tê-lo feito, mas não preciso).
Este é apenas um fato em relação às pessoas com deficiência, o fato de que podem realizar e obter todas as conquistas que desejarem, mas para que isso ocorra deve haver acessibilidade. A acessibilidade consiste em driblar dificuldades e atingir resultados esperados, e não pode mais ser ignorada.

Para quem quiser acompanhar um pouco do cenário paulista acerca da acessibilidade para pessoas com deficiência visual, segue abaixo o link da Fundação Dorina Nowill, importantíssima instituição que atende a pessoas com deficiência visual no Brasil e no exterior. Segue também um link de divulgação do trabalho da orquestra Hanbit.

https://www.fundacaodorina.org.br/a-fundacao/quem-somos/

http://sarangingayo.com.br/noticias-gerais/orquestra-hanbit-companhia-de-artes-de-deficientes-visuais-faz-turne-gratis-em-sp/

Escolhi falar um pouco sobre a questão da deficiência visual pois trabalhamos com isto, mas vale lembrar que são muitos os tipos de acessibilidade necessárias no mundo, e é dever público a prontidão para atendimento de todos.

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