Processo de editoração de um livro braille

Limpeza do livro em tinta
A editoração de um livro braille requer um trabalho de varredura do livro em tinta que está sendo transcrito, essa varredura é chamada de limpeza. É durante a limpeza que o editor realiza as adaptações necessárias - descrições de imagens, solicitações de imagens em alto relevo por parte da gráfica que realizará a impressão (quando as imagens não podem ser descritas, ou quando a descrição afeta o nível de compreensão do leitor, os pontos em alto relevo farão as vezes de leitura da imagem). Quando trata-se de um livro didático, o Instituto Benjamin Constant também aconselha a indicar no livro que o estudante peça orientação ao(a) professor(a) quando, durante a transcrição de um livro didático, exercícios e atividades dependem de uma descrição de imagem específica daquela área de ensino, sem a qual o estudante leitor do livro não poderá prosseguir com a atividade.

Diagramação
Após a limpeza, inicia-se o processo da diagramação. É durante a diagramação que são definidos parâmetros de impressão: quantidade de linhas por página, quantidade de caracteres por linhas, quantidade de páginas e folhas por volume (quando ocorre de uma única obra resultar em vários volumes braille, dado o espaço diferenciado ocupado pela escrita braille em relação à escrita em tinta). É durante a diagramação, também, que importantes parâmetros para otimizar a leitura são adotados: recuo de linhas, destaques de títulos e textos; espaços para descrição de ilustrações; quebra de linhas para evitar sílabas órfãs; quebras de páginas para evitar linhas órfãs. 


Braille Fácil
A criação do programa Braille Fácil por José Antônio Borges, Geraldo José Ferreira das Chagas Jr. e Júlio Tadeu Carvalho da Silveira, veio a possibilitar a edição de livros braille de modo otimizado em relação às práticas antigas de edição braille. Este programa é adotado atualmente por todas editoras braille no Brasil, e pode ser adquirido gratuitamente pelo site do MEC.

Códigos braille
Embora o Braille Fácil converta os textos para o braille, a maior parte dos códigos braille precisam ser digitados manualmente para que o programa converta corretamente a informação. Dessa forma, o editor deve necessariamente ter conhecimentos aprofundados da grafia braille, a fim de não apenas digitar os códigos que transcrevam a informação durante o processo de diagramação, mas também de conferir em pontos negros se tudo ocorreu como esperado.


Revisão e impressão
Após o processo de finalização da obra, é realizada uma revisão do livro. A Comissão Brasileira do Braille (CBB) instituiu que a revisão por parte das editoras deva ser realizada por um editor vidente e por um revisor cego, para captar e corrigir possíveis erros de transcrição ou diagramação, antes de confirmar a matriz que fará a impressão de todos os volumes a serem distribuídos. 
Feita a confirmação da matriz, impressão e distribuição, está finalizado o trabalho.

Livros acessíveis
Os livros em braille voltam-se unicamente às pessoas com deficiência visual. Um livro em braille pode, também, conter imagens em alto relevo e cores fortes (para pessoas com baixa visão), e, ainda, letras em fonte ampliada (para leitores videntes) e CD contendo o livro em áudio (para iniciantes no braille, que ainda tenham dificuldades de leitura, ou para cegos que não leiam braille. Volumes em tinta que sejam muito extensos acabam gerando muitos volumes em braille, razão pela qual muitas das vezes a pessoa com deficiência visual prefere obter o áudiolivro ou o livro digital). Este último exemplo de livro adaptado de várias formas seria o chamado livro acessível, que contempla o uso por parte dos cegos, videntes e pessoas com baixa visão. 

Manuais
Para consulta, os editores braille utilizam manuais reconhecidos internacionalmente e nacionalmente. Tais manuais esclarecem dúvidas acerca de códigos, sendo que há sempre margem para criação de um novo código quando há necessidade (neste caso, uma legenda é criada no início da obra para indicar ao leitor o significado daquele novo código). Abaixo, a indicação bibliográfica de alguns documentos úteis para esse trabalho:

BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SEE. Grafia Braille para a Língua Portuguesa. Elaboração: Cerqueira, Jonir Bechara... [et al.]. Secretaria da Educação Especial. Brasília: SEESP, 2006. 2º edição.

COMISSÃO BRASILEIRA DO BRAILLE. Código Matemático Unificado para a Língua Portuguesa. Fundação Dorina Nowill para Cegos, São Paulo, 1998.

UNIÃO MUNDIAL DE CEGOS/Subcomitê de Musicografia Braille. Novo Manual Internacional de Musicografia Braille. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. Brasília, 2004.


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